O QUE NOS DÃO A APRENDER
Um dia passado após o último exame da época normal invade-me um sentido estranho de desnorte e vazio. Apetece-me perguntar: mas afinal o que é que eu ando a fazer com o meu tempo aqui? Vozes experientes e avisadas logo me responderão sem hesitar que estou a aprender, a adquirir conhecimentos e competências e uma porção de outras balelas que ficam sempre bem dizer-se…
Ponho-me a pensar naquilo que me foi dado a aprender estes anos todos, desde a primária até agora, e parece-me tão pouco, sobretudo quando havia coisas tão importantes que nunca me mostraram nem sequer me apontaram com o dedo. Não sei porquê mas fico com a sensação que o que me leccionaram era somente o suficiente e indispensável para fazer o próximo teste ou exame. E desta forma ia definindo a fronteira entre o que era importante e o que não era, entre o que interessava saber porque me ia ser questionado e entre aquilo que era (supostamente) acessório.
Bem sei que tem de existir um programa, tem de existir um planeamento de aulas e uma consequente selecção de matérias… mas ainda assim tudo se me afigura como um ensino fast food, um ensino de comer de pé e ao balcão, sem tempo para conversa nem sequer para uma bica. Quantos de nós, especialmente no secundário, tivemos a desilusão de ver terminar um assunto interessante (porque mais amplo, apelativo, fora da rigidez dos livros) prematuramente, apenas porque “não temos tempo para isso e o programa é extenso”. Mas então se é assim tão extenso e nunca temos tempo para falar do que interessa, passamos a vida, afinal, a falar de quê?
Lamento nunca termos tido tempo para aprender mais e melhor a nossa História, não só através do Livro (que me faz sempre lembrar o Mao e o seu livro Vermelho), mas de outros livros, de outras pessoas (que não apenas o professor), de outros filmes, museus, bibliotecas, viagens; lamento que nunca me tenham mostrado a beleza da Matemática, a sua aplicação prática concreta, a sua importância no âmbito do progresso tecnológico e científico, a exactidão do raciocínio matemático, que nunca me tenham falado dos matemáticos e do seu brilhantismo, da forma como, por exemplo, Euler conseguia trabalhar prodigiosamente rodeado pelo barulho da sua extensa prole. Mas lamento também que me ensinassem poesia, a dividir estrofes, a procurar, à laia de suíno que busca trufas, metáforas, sinédoques, zeugmas, aliterações, sem me dizerem que a poesia é emoção, é frémito, é vida, é paixão, é a síntese do Homem, e acima de tudo que nunca me tenham deixado declamar um poema ou sequer me incentivassem a escrever um. Lamento que nunca me tenham falado com pormenor dos grandes compositores como eles mereciam, da sua vida e música, que nunca me tenham mostrado um quadro…
Mas existem sempre, felizmente, excepções, professores que inspiram e Ensinam. Após alguns trambolhões na vida decidi enveredar pelo curso e, uma vez que não tinha frequentado a disciplina de Filosofia no 12º ano, tive aulas, a expensas minhas, com uma Professora. Tão poucas vezes na vida, como então, me senti fascinado por algo; o menos importante era o que a Professora me ensinava, mas aquilo que ela me mostrava que havia para aprender. Tive oportunidade de, a partir da leitura de Kant, Descartes, Nietzsche, Platão, discutir as suas ideias sem me preocupar com o tempo, de apreender o fascínio das suas argumentações, mas também de aprender como viviam que tipo de pessoas eram e de, a partir deles, descobrir outros autores, outros filme e de ter passado a colocar, em tudo o que me foi dado a aprender depois muitos pontos de interrogação.
Mas isto é talvez apenas a ressaca dos exames a falar.
NAP