30 janeiro 2005

O QUE NOS DÃO A APRENDER

Um dia passado após o último exame da época normal invade-me um sentido estranho de desnorte e vazio. Apetece-me perguntar: mas afinal o que é que eu ando a fazer com o meu tempo aqui? Vozes experientes e avisadas logo me responderão sem hesitar que estou a aprender, a adquirir conhecimentos e competências e uma porção de outras balelas que ficam sempre bem dizer-se…

Ponho-me a pensar naquilo que me foi dado a aprender estes anos todos, desde a primária até agora, e parece-me tão pouco, sobretudo quando havia coisas tão importantes que nunca me mostraram nem sequer me apontaram com o dedo. Não sei porquê mas fico com a sensação que o que me leccionaram era somente o suficiente e indispensável para fazer o próximo teste ou exame. E desta forma ia definindo a fronteira entre o que era importante e o que não era, entre o que interessava saber porque me ia ser questionado e entre aquilo que era (supostamente) acessório.

Bem sei que tem de existir um programa, tem de existir um planeamento de aulas e uma consequente selecção de matérias… mas ainda assim tudo se me afigura como um ensino fast food, um ensino de comer de pé e ao balcão, sem tempo para conversa nem sequer para uma bica. Quantos de nós, especialmente no secundário, tivemos a desilusão de ver terminar um assunto interessante (porque mais amplo, apelativo, fora da rigidez dos livros) prematuramente, apenas porque “não temos tempo para isso e o programa é extenso”. Mas então se é assim tão extenso e nunca temos tempo para falar do que interessa, passamos a vida, afinal, a falar de quê?

Lamento nunca termos tido tempo para aprender mais e melhor a nossa História, não só através do Livro (que me faz sempre lembrar o Mao e o seu livro Vermelho), mas de outros livros, de outras pessoas (que não apenas o professor), de outros filmes, museus, bibliotecas, viagens; lamento que nunca me tenham mostrado a beleza da Matemática, a sua aplicação prática concreta, a sua importância no âmbito do progresso tecnológico e científico, a exactidão do raciocínio matemático, que nunca me tenham falado dos matemáticos e do seu brilhantismo, da forma como, por exemplo, Euler conseguia trabalhar prodigiosamente rodeado pelo barulho da sua extensa prole. Mas lamento também que me ensinassem poesia, a dividir estrofes, a procurar, à laia de suíno que busca trufas, metáforas, sinédoques, zeugmas, aliterações, sem me dizerem que a poesia é emoção, é frémito, é vida, é paixão, é a síntese do Homem, e acima de tudo que nunca me tenham deixado declamar um poema ou sequer me incentivassem a escrever um. Lamento que nunca me tenham falado com pormenor dos grandes compositores como eles mereciam, da sua vida e música, que nunca me tenham mostrado um quadro…

Mas existem sempre, felizmente, excepções, professores que inspiram e Ensinam. Após alguns trambolhões na vida decidi enveredar pelo curso e, uma vez que não tinha frequentado a disciplina de Filosofia no 12º ano, tive aulas, a expensas minhas, com uma Professora. Tão poucas vezes na vida, como então, me senti fascinado por algo; o menos importante era o que a Professora me ensinava, mas aquilo que ela me mostrava que havia para aprender. Tive oportunidade de, a partir da leitura de Kant, Descartes, Nietzsche, Platão, discutir as suas ideias sem me preocupar com o tempo, de apreender o fascínio das suas argumentações, mas também de aprender como viviam que tipo de pessoas eram e de, a partir deles, descobrir outros autores, outros filme e de ter passado a colocar, em tudo o que me foi dado a aprender depois muitos pontos de interrogação.

Mas isto é talvez apenas a ressaca dos exames a falar.

NAP

08 janeiro 2005

Ideias I (salas de estudo 24h Porque Não?)

A propósito de ideias concretas para que se ajude a construir a velha máxima do ensino público, gratuito e de qualidade... Sabendo que a gratuiticidade está irremediavelmente distante esforcemo-nos pelo resto.

Percebo, por experiência própria, que é uma tarefa árdua passar a concreto aquilo que é geral, ou seja, exprimir as ideias de uma forma clara e acessível para que outros, que tenham competência, as possam concretizar. Existem contudo exemplos de como se consegue contribuir para a capacidade produtiva e criativa de uma Universidade. O nosso Casino é um exemplo recente disso. Pelo menos pretende-o conseguir com mérito.

A actual época de exames que se vive nas universidades poruguesas, especificamente na Universidade do Minho, despertou em mim a ideia adormecida da possibilidade da existência de salas de estudo 24h. Do que me apercebo, se existirem não estão minimamente divulgadas. Como tal concluo que não existem até que me provem o contrário.

Não digo que seria a resolução de todos os problemas de insucesso académico. Aliás a nossa ilustre academia cota-se como uma das melhores, senão mesmo a melhor, neste aspecto.

Regressando ás salas de estudo 24h. O conceito de estudar nos espaços da Universidade em tempo de exames quando não decorrem aulas e actividades ligadas ao ensino está bem pensado e torna possível a muitos estudantes melhores condições de estudo. Senão veja-se a afluência de estudantes quer á biblioteca quer ás salas de aula nesta época. A existirem as referidas salas 24h, devem obviamente estar englobadas num mesmo complexo, existente ou a construír/remodelar, em número reduzido e de acesso restrito ao estudantes da UM. Sabemos que o Orçamento da UM não permite mais construções megalómanas...Não me informei se o novo complexo que está nascer de um vulto cinzento gigante terá qualquer tipo de salas desse género.

Mas esta ideia não é recente. Já muitas outras instituições de ensino público ou privado permitem, disponibilizam e acarinham os alunos com tal conceito progressista. Ainda mais. Já há em Braga quem tenha projectado tudo. Excepto as especificidades reservadas técnicamente á construção civil.

O projecto Braga tempo (a quem a ELSA é alheia), em que "os seus membros procuram estabelecer as conexões - mais que urgentes - entre o mundo fechado do conhecimento teórico (da universidade, e em especial, da Universidade do Minho donde têm saído cada vez mais estudos sobre Braga) e os cidadãos que, por seu lado, têm vindo a expressar das mais variadas formas um descontentamento face ao tipo de crescimento da(s) nossa(s) cidade(s)." tem um projecto a meu ver original, rejuvenescedor e viável. Veja-se:



(Rua nova de Stª Cruz - Rua da Universidade do Minho)

e deseje-se...




http://www.projectobragatempo.net/index1.htm

BSA

07 janeiro 2005

Quem tem medo das avaliações?

“Sabemos que muitas instituições de ensino superior são instituições acomodadas.

Sabemos também que há muitos professores acomodados e desencantados. A mudança não partirá da universidade nem dos politécnicos. Terão de ser os alunos a ser mais exigentes e reivindicativos. Terão de ser os alunos a reivindicar mais qualidade, em vez de menos propinas.

Acredito que a resposta à questão: “Como se altera esta situação?” – está na resposta a outras perguntas:

- Como tornar os estudantes muito mais exigentes?

- Como obrigar as Universidades a escutarem essas exigências?”

NÃO!?

Não se trata de um excerto de discurso de campanha para as legislativas.

São reflexões de alguém que é “prata da casa”!

E mais um contributo para a reflexão sobre o associativismo.

Vale a pena ler o original.

http://aguiar-conraria.weblog.com.pt/arquivo/2004/09/quem_tem_medo_d.html


AgoraEu


06 janeiro 2005

NÃO QUERO UM DOM SEBASTIÃO


Cada português tem dentro de si uma chama providencialista. A crise que assola o rectângulo luso tem sido autêntica gasolina para esta chama; o português acorda de manhã, abre a porta de casa e procura entre as brumas o homem providencial que tudo resolverá. Trata-se de uma figura ímpar, dotada de qualidades únicas e excepcionais, capaz de congregar consensos e esforços e de nos colocar a todos de novo no caminho da felicidade. Este homem baixará o défice, o desemprego, os impostos, aumentará os salários da função pública… enfim, um autêntico milagreiro, capaz de nos dar tudo e de tudo fazer por nós.

Não quero nem acredito em homens providenciais. Renego todo e qualquer Dom Sebastião! Gostava, aliás, de relembrar a todos os revivalistas que o último homem providencial que apareceu por estas bandas (apelidado, imagine-se, de “Santo”!), por cá ficou a governar Portugal durante quarenta anos, mantendo o país na miséria, a população inculta, boçal e reprimida, e a economia numa estagnação desoladora. Pelos feitos deste homem providencial, deste “velho abutre” (como lhe chamava Sophia), ainda hoje estamos a pagar caro. Eu não quero mais disto, alguém quer?

Homens e mulheres providenciais somos todos nós se nos tornarmos mais responsáveis e cientes de que uma quota parte da responsabilidade por este estado de coisas é nosso. Temos de abandonar os tiques consumistas e despesistas de país rico (que nunca fomos), criar poupança, deixar de recorrer ao crédito fácil como panaceia para todos os problemas, largar o nacional vaidosismo de passear com um carro da marca em voga, último modelo. Chegou a hora de vivermos de acordo com aquilo que temos na bolsa. Temos todos de ser mais empreendedores; para criar riqueza não podemos estar à espera do investimento público, somos nós quem tem de lutar. Quanto mais exigirmos do Estado mais ele nos cobrará no futuro.

Isto não significa virar as costas à governação e à política nacional, pelo contrário, é necessário ser cada vez mais exigente com quem está no Executivo e no Parlamento. Exigir medidas concretas, para os problemas graves que enfermam o nosso país, planos de médio e longo prazo, estabilidade governativa, responsabilizar os governantes, e rejeitar os discursos grandiloquentes e inanes que nada resolvem.

Acredito que só por estultícia se pode pensar que vem aí alguém para nos salvar. Salvemo-nos antes nós.

NAP

04 janeiro 2005

MAIS UM MOTIVO DE ORGULHO!

A “gerência” do Casino da ELSA, agradece o link do Diário do Ateísta.


http://www.ateismo.net

SaMyRoute99

03 janeiro 2005

Sabedoria de Salomão

- Vieram duas prostitutas apresentar-se ao rei. Uma delas disse: «Ouve meu senhor: Esta mulher e eu habitávamos a mesma casa, e dei ali à luz um filho. Três dias depois deu também ela à luz um filho. Vivíamos juntas, e nenhum estrangeiro havia estado connosco nessa casa, pois somente nos as duas estávamos ali. Durante a noite morreu o filho desta mulher, porque ela o abafou enquanto dormia. Ela levantou-se no meio da noite, e, enquanto a tua serva dormia, pegou no meu filho que estava junto de mim e pô-lo ao seu lado, deixando o seu filho morto junto de mim. Quando me levantei pela manha para amamentar o meu filho, encontrei-o morto; mas examinando atentamente, verifiquei que não era o meu filho.» - a outra mulher disse: «é mentira o que esta vivo é o meu filho; o teu é o que morreu ». a primeira replicou: « não, o teu filho é o que morreu e o que esta vivo é o meu». E assim altercavam na presença do rei.

O rei disse então: «tu dizes: o meu filho está vivo e o teu esta morto; e tu replicas: « não, o teu filho morreu e o meu está vivo. Vejamos, continuo o rei, trazei-me uma espada». Trouxeram ao rei a espada .

E disse: «cortai ao meio o menino vivo e dai metade a cada uma !» mas a mulher, mãe do filho vivo, comovida nas suas entranhas, disse ao rei: «rogo- te, meu senhor, que lhe dês o menino vivo; não o mateis»; mas a outra dizia: « ele não será nem teu nem meu ; que o dividam»! Então o rei pronunciou o seu julgamento: «dai, disse ele, o menino vivo a esta mulher; não o mateis. Pois é ela a sua mãe». Espalhou-se por tudo o Israel a sentença dada pelo sei Rei e todos o temeram, vendo nele uma sabedoria divina para fazer justiça.

Antigo Testamento, in- Primeiro Livro dos Reis

SaMyRoute99

(Ex)Citações III

Lolita, luz da minha vida, fogo da minha virilidade. Meu pecado, minha alma. Lo-li-ta: a ponta da língua faz uma viagem de três passos pelo céu da boca abaixo e, no terceiro, bate nos dentes. Lo.Li.Ta.

Pela manhã, um metro e trinta e dois a espichar dos soquetes; era Lo, apenas Lo. De calças praticas, era Lola. Na escola, era Dolly. Era Dolores na minha pontilhada onde assinava o nome. Mas nos meus braços era sempre Lolita.

Vladimir Nabokov - in Lolita

SaMyRoute99