28 fevereiro 2005

REI MORTO, REI POSTO

O resultado das eleições ditou uma pesada derrota para a Direita portuguesa. Uma derrota deste calibre tem repercussões óbvias, sendo que a principal delas será a continuidade, ou não, dos líderes partidários que conduziram os respectivos partidos neste período eleitoral.

No que ao PP diz respeito, Paulo Portas retirou, na própria noite de eleições e após conhecer os resultados, as ilações devidas e, embora descontando o exagerado dramatismo da situação, Portas retirou-se de cena dignamente desfiando perante as câmaras os objectivos a que se tinha proposto e que falhou por completo. Confesso que pensava que logo após a demissão do líder dos democratas cristãos se mostrassem disponíveis outros nomes para a disputa de liderança, ou não fosse o PP, como os seus dirigentes tanto gostam de afirmar, um partido de quadros. Cogitava eu que entre nomes como: Pires de Lima, Telmo Correia, Lobo Xavier ou Ribeiro e Castro alguém se haveria de chegar à frente e apresentar como candidato à liderança. Mas não. Ninguém se mostra disponível para tal, embora todos se ofereçam como colaboradores do Partido. O PP parece viver um período de nojo, como fez notar Pires de Lima, durante o qual a única certeza é a de que vários dos nomes anteriormente referidos se mostram favoráveis ao regresso de … Portas. Ora, se tal se passar, isto é, se Portas se suceder a si próprio na liderança, após declaração de não continuidade perante um conjunto de fiéis seguidores de lágrima ao canto do olho, terá atirado à lama a sua saída digna e a pouca credibilidade que ainda goza perante os portugueses.

Mas com Santana tudo é diferente. O, ainda, líder do PSD mesmo face a uma estrondosa derrota nas urnas, a uma forte oposição interna, e ao exemplo de Paulo Portas preferiu não se demitir na noite de eleições. Permitiu que por mais uma noite se especulasse, se comentasse, se conjecturasse um congresso do PSD em que Pedro Santana Lopes estaria novamente a disputar a liderança, para logo no dia a seguir vir assegurar que não se candidataria a líder. O Partido suspirou de alívio.

Duas figuras se mostram agora como candidatas certas. Luís Marques Mendes e Luís Filipe Menezes. O primeiro destes candidatos parece ser o melhor posicionado para vencer o próximo congresso; a experiência política de Marques Mendes é vasta, tendo passado pelo executivo por várias vezes e ocupado inclusive o lugar de líder parlamentar. E, nunca se identificando com Barroso, com Santana nem com Marcelo, foi passando pelo consulado destes líderes com assinalável coerência, como demonstra o último congresso dos sociais democratas em que foi dos poucos, senão mesmo o único a afrontar o líder. Luís Filipe Menezes, embora já tenha passado pelo executivo, o grosso da sua experiência política é sobretudo ao nível local na autarquia de Gaia, ficando-nos sempre no ouvido, ainda assim, o congresso em que se procurava o sucessor de Cavaco e o autarca se insurgiu contra uma liderança “sulista, elitista e liberal”.

O mais certo é que Marques Mendes ganhe, isto se se mantiver o modo de eleição de dirigentes que vigora no PSD. Exemplo de eleição verdadeiramente democrático deu o PS nas suas últimas eleições internas, dando a palavra aos militantes de base e não aos “barões”, que Pacheco Pereira candidamente afiançou não existir no PSD. Embora a candidatura de Menezes pareça ser a menos favorecida para a vitória importa frisar dois pontos: em primeiro lugar a discussão interna fortalecerá o partido (embora não acredito que se renove, para tal seria preciso que avançasse um candidato completamente inesperado), em segundo lugar ambos os candidatos desejam, caso ganhem, recolocar o PSD no seu lugar originário no espectro político, ou seja, ao centro (direita) e não apenas à direita como tem sido nos últimos anos.

Le roi est mort, vive le roi.

NAP