CAHORA BASSA E O DÉFICE
A construção da Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB) em Moçambique (1974) permitiu o aproveitamento das águas do rio Zambeze, interrompendo as habituais cheias e beneficiando, estima-se, mais de um milhão de camponeses. No entanto estes mais de trinta anos de funcionamento da HCB têm tido resultados desastrosos, em especial a jusante da barragem, a diminuição drástica do fluxo fluvial constituiu um gravíssimo impacte ambiental, modificando os hábitos da população, provocando a perda de mais de 25 por cento dos habitats naturais do delta, causando uma queda drástica na ordem dos 95 por cento da fauna. Por outro lado, estima-se que a pesca industrial do camarão num distrito da Zambézia, junto ao delta, se reduziu drasticamente, dadas as dificuldades de regeneração da sua população em função da alteração ecológica causada. Tudo isto num país em que 90 por cento da população moçambicana ainda não tem acesso à sua própria energia.
A venda da posição de Portugal na HCB, diz-se, é vista como uma das medidas para manter o défice público abaixo dos 3 por cento. De facto, visto que se trata de uma venda que terá de ser feita mais tarde ou mais cedo pelo governo português, dada a irreversibilidade das negociações referentes à HCB, este negócio não pode ser equacionado como uma medida extraordinária. O problema está, porém, no preço da posição portuguesa, enquanto que o executivo anterior (e em especial Bagão Félix que já tinha abordado o assunto) falava num valor na ordem dos 1800 milhões de euros, o governo moçambicano nega-se a oferecer mais do que 700 milhões de euros.
Caberá ao executivo de Sócrates resolver este problema, sendo certo que não se trata de uma mera operação económica e financeira; importa esclarecer o papel de Portugal nestas últimas décadas de gestão do complexo hidroeléctrico e acima de tudo não transformar esta questão numa oportunidade fácil de obter dinheiro à custa de um país já de si grandemente debilitado.
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