28 março 2006

Dá que pensar

O professor esforçava-se por discutir o assunto que trazia preparado para a aula. Uma pergunta e nada. Segunda pergunta e o silêncio mantinha-se na sala.
"São sempre assim tão pouco participativos?" - arriscou.
"Tinham-me dito que não, pelo contrário!" - respondeu face ao continuado silêncio.
"Estarão cansados! Quantas aulas já tiveram hoje?" - arriscou, de novo.
"Esta é a segunda!" - recebeu de resposta.
A expressão do seu olhar foi por demais eloquente. Não precisou de palavras.
E continuou a expôr a matéria enfrentando uma plateia de alunos de nariz enfiado nos "cadernos" a não querer perder nada do "ditado" e pouco interessada em "discussões doutrinárias".
Parecia querer quebrar o "ritmo" a que se vai "ensinando" na universidade.
Creio que ainda não desistiu. Faço votos para que não o faça.
Para não ficar a sensação (ou certeza!!!) de que é possível a um qualquer aluno obter uma licenciatura, sujeitando-se apenas a exames escritos, suportado em "cadernos", sem nunca ter enfrentado qualquer professor nem, tão pouco, ter "aberto a boca" durante as aulas.
Dá que pensar!

JL

2 Comments:

At 29 março, 2006 16:54, Anonymous Anónimo said...

"Parecia querer quebrar o "ritmo" a que se vai "ensinando" na universidade." Meu Caro JL, esta frase tão promissora em termos de pedagogia, espero que não encerre apenas o carácter referido no seu post. A ideia que me fica, e espero que me corrija se estiver enganado, é a de que um professor que faz questões e tenta "puxar" pelos alunos, está ele próprio a "quebrar o ritmo a que se vai ensinando na universidade". Sei que esta visão lhe pode parecer um pouco simplista, mas não aflora o que verdadeiramente pode ser benéfico para os alunos e em concomitância para o professor. Antes de serem arrolados com inúmeras questões, o professor tem de criar o interesse na matéria em apreço, deste modo a participação sem dúvida que não seria nula. A comunicação é tranversal, no sentido professor/aluno e aluno/professor, se for só num sentido não tem a mínima eficácia.

PSB

 
At 29 março, 2006 23:57, Anonymous Anónimo said...

PSB,
Entre o modelo que, por agora, nos servem e aquele que possamos entender como o mais ajustado a uma nova realidade, qualquer que ela seja, vai um caminho que todos teremos de percorrer.
Esse caminho passará, indubitavelmente, pelo exercício sistemático de pensar e discutir as coisas.
O episódio que se relata no post foi uma tentativa bem ensaiada pelo professor face a esse objectivo. Não se questionava para aferir se se havia estudado as matérias ou até com o intuito de avaliar. Tão somente para que as "matérias" fossem sendo descobertas e não "despejadas" como "se vai ensinando na universidade".
Facto é que quase sempre que alguém ensaia esse exercício prodigioso de induzir a pensar e descobrir o conhecimento as conversas instalam-se na plateia porque não é tempo de "ditado".
E assim se passam os dias!

 

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