18 dezembro 2004

HERMAN: o moribundo

   Embora a notícia da morte de Herman José

seja prematura tudo indica que o seu
estado clínico é extremamente reservado não havendo
lugar para grandes
esperanças.
Recordo-me (eis a minha veia de saudosista a
funcionar em pleno) de esperar
ansiosamente por cada novo programa (de comédia, entenda-se)
do Herman como quem espera de pão para a boca.
Cada episódio era um deleite genuíno que se
prolongava pelos dias seguintes,
durante os quais eu e muitos amigos
papagueávamos cada cena engendrada por ele,
procurando imitá-lo em remakes de
fabrico caseiro.
Quem não se lembra do Casino Royal,
O Tal Canal ou do Herman Enciclopédia?
Quem não se recorda das inúmeras personagens
que criou: Marilú, o Estebes, a
Maximiana, o Diácono Remédios e tantas outras?
Herman interpretava-as magistralmente, conseguia
assimilar na perfeição o ser português (talvez a
sua origem alemã lhe permitisse um maior
distanciamento crítico) e satirizar como
ninguém estes nossos brandos costumes.
Falo, todavia, no pretérito, porque esse
Herman desapareceu, ficando apenas uma
reminiscência que consoante o dia se
afigura mais nítida ou mais obscura mas sempre muito longe
daquilo que foi. Não sei apontar o momento em que
Herman adoeceu, o mais certo é tratar-se de uma
degenerescência vagarosa mascada vez mais notória.
Não consigo ver um programa feito por ele,
é demasiado cruel. Mas quando num zapping
distraído me cruzo com ele na televisão
fico confuso, uma mistura de pena e de revolta porque
sei que é capaz de muito mais do que ser medíocre. O
Herman não é o mesmo, está mais arrogante, mais centrado
em si próprio, não consegue perceber que ao tentar
imitar grandes nomes americanos como Jay Leno
ou Conan O'Brien, para além do claro insucesso
priva-se e priva-nos
daquilo que melhor sabe fazer e que poucos o
farão melhor: Humor.
Conseguirá Herman sair do coma?
Se isso não acontecer espero que alguém
tenha a coragem de lhe acabar com a agonia de vez.

NAP