23 dezembro 2004

DUPLA ESQUERDA

Ingenuidades à parte, em Portugal existem dois partidos com vocação de poder: o PS e o PSD; embora com coligações pontuais, é certo, mas sempre partidos maciçamente votados. PS e PSD sucedem-se na governação, tem sido assim até aqui e tudo indica (sondagens, análises de jornalistas e comentadores, ciclo normal das eleições…) que nas próximas votações o PS ganhe.

Posto este cenário muitas questões surgem. Desde logo a de saber, caso o PS tenha maioria relativa – inclino-me mais para esta hipótese – com que partido irá formar coligação; sim, porque depois de tanto ouvirmos falar de estabilidade era cómico se o Presidente da República empossasse um governo minoritário. As coligações possíveis são, como é óbvio, com o Partido Comunista ou com o Bloco de Esquerda. Numa entrevista recente o líder deste último partido veio dizer que embora viabilizasse o governo PS, sob pena de estar a contradizer o putativo sentido das votações, não iria formar governo com o PS. Sendo assim, resta o Partido Comunista. Pois bem, caro Sócrates, pergunto: será que vamos ter um governo PS coligado com o PC? Não deixa de ser irónico que no momento em que é eleito um líder comunista conotado com a ala ortodoxa do PC, que restaurou a máxima “marxismo leninismo”, se coloque a hipótese de uma coligação com o líder socialista tido como próximo do centro do espectro político.

Numa altura em que Sócrates afirma, já em jeito de campanha, que não vai desperdiçar aquilo que foi feito pelo governo anterior, importa saber como é que o engenheiro, caso se coligue com o PC, logra diminuir a despesa pública de forma a equilibrar as contas públicas. Temos Estado a mais neste país, o número de funcionários públicos é brutal, o funcionamento da administração pública é miserável. Poderá um governo socialista coligado com uma minoria comunista alterar este estado de coisas. Se com um governo de esquerda se me afigura difícil, com um governo duplamente de esquerda mais difícil será!

NAP

1 Comments:

At 23 dezembro, 2004 19:33, Anonymous Anónimo said...

Caro NAP, considero que por muito que a questão que levantas seja pertinente, acho que falhaste apontar o principal problema da nosas vida política...
Com efeito, o verdadeiro problema que o nosso país algerga, em comunhão com diversos outros, tanto no continente europeu como fora dele, é a falta de um partido que seja a convergência das vontades, esforços, crenças e esperanças de todo o povo...
Claro que à sua cabeça teria que vir um líder carismático, verdadeiro exemplo de convicções (que tanto têm faltado nos nossos dirigentes) e que fosse o reflexo de um povo, que o procura.... quase à 500 anos!!!
Não querendo ser um sebastianista, queria antes ser um revivalista, e considerar que a força que nos fez outrora grandes, se mantenha latente em nós, por muito que em alguns adormecida...
Assim não sendo a única coisa que temos são dois partidos que mais não fazem do que tentar destronar o maior deles todos.. o PARTIDO DA ABSTENÇÃO. E este continuará a ser o maior partido enquanto não se der uma revolução; mas uma revolução não de armas, mas de mentalidades e convicções, em que seja o mérito, capacidade e inteligência a governar o nosso país e não o oportunismo, habilidade política e falta de excrúpulos.
É por isto que anseio, por um ressurgir das qualidades que fazem de nós portugueses, ao invés deste marasmo de ideais e ideias, que se traduz numa luta de partidos pelo poder, que parece antes uma luta de dois cães pastores por um osso (sem ofensa aos cães pastores), aliando-se conforme as necessidades a caniches anémicos, que vão mandando umas dentadinhas nas caudas dos outros enquanto estes não partilham as sobras...
Está na altura de aparecermos como país...

CDR
(peço desculpa mas esqueci-me de assinar o comment no post do Super(?)Mário, mas aqui fica a assinatura para quem quiser...)

 

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